sexta-feira, 24 de abril de 2009

LIBERDADE

Como a polémica acerca da questão de que vou escrever a seguir já voltou ao adormecimento habitual de tudo o que é polémico, se fala muito e não se conclui nada, , já me sinto confortável a dar opinião sobre ela. Não gosto de escrever muito sobre assuntos que estão na moda, parece que tudo é um lugar comum. Também porque hoje é dia 25 de Abril, dia da Liberdade(Valor importantissímo para mim, palavra que só por si me preenche) e esta é para mim, acima de tudo uma questão de liberdade, cá vai, acho que é um texto um pouco longo, mas estamos no imperfeito certo?Ás vezes mostramos as nossas garras!
O casamento entre homossexuais.
Tento com um esforço quase estóico ser compreensiva e racional quando penso nos argumentos dos que se dizem frontalmente contra. Tento mas não consigo. Sempre que os leio, ouço ou discuto não há um que me convença. Ou melhor eu não quero ser convencida do contrário, porém poderia talvez entendê-los melhor, dar-lhes crédito, encolher os ombros e pensar”OK, eu não penso assim, mas o argumento é válido, e aceitável”. Não.
Confesso que os extremismos sempre me incomodaram. A histeria de quem brame os seus argumentos de uma forma demagógica, como se fosse a única e a mais valiosa é meio caminho andado para que eu já nem oiça, já não veja, já não sinta. Isto é, como diria uma Amiga minha “não estou nem aí!”. Tais pessoas dão-me náuseas, vómitos, deixo de as ouvir, não quero saber. Até posso concordar com o que dizem mas a forma como o dizem faz-me perder a vontade de as ouvir. Chamem-me intolerante e fóbica, não faz mal concordo em grau, género, número.
Voltando ao essencial, é com dificuldade que encaro esta nova polémica como tal, isto é compreendo que se fale dela, já que no nosso País a sua viabilidade é para já nula.
Mas não vejo qualquer eficácia prática na forma como tem sido discutida e também se estivesse na adolescência e a tentar ter opinião sobre tudo e qualquer coisa(eu era assim, se calhar hoje já
não…Não sei por enquanto ainda aguardo, as minhas crianças ainda não “adolescem”…) ficaria sem perceber muito bem qual a razoabilidade de uns e doutros argumentos. É bom que estas coisas se discutam, é bom porque a sociedade não é sempre igual, nem as pessoas se relacionam sempre da mesma maneira. A ser assim ainda estaríamos na Idade Média e Galileu não nos teria mostrado que ser teimoso e persistente, ainda quando o Mundo inteiro está contra nós e se acaba em chamas numa fogueira, vale a pena. Por isso seria agradável encontrar um consenso nesta matéria onde todos nos sentíssemos confortáveis. Impossível, já sei. Haverá sempre os que desditam de todas as mudanças em oposição aos que com elas se regozijam. De qualquer forma seria bom que com este assunto todos aprendêssemos qualquer coisa que é o que sempre se pretende quando ideias são debatidas, pelo menos num Mundo que se diz civilizado, seja lá o que isso for.
Digo desde já que não vou falar da Igreja porque me parece que não está em causa qualquer casamento católico, embora existam muitos homossexuais católicos, mas também, e ainda bem, também há muita gente que acredita em Deus e nem sempre concorda com a Igreja. Como diria um senhor Douto Professor, são realidades distintas.
Também não vou perder muito tempo a escrever sobre aqueles que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo apenas como mais um slogan pós-moderno que confere um certo estilo a quem gosta de aparecer. Para esses isto é apenas mais um assunto para mostrar que se é “modernito” e que é cool defender as minorias, ou então dos que sempre foram do contra, a favor dos pobres e descamisados, por isso isto é só mais uma questão para dizer que não, não pode ser. Não lhes dou muito crédito já que eles próprios não o dão a si mesmos, já quase consigo não os ouvir, o que é bom porque são muito ruidosos. Estou para estes como Almada Negreiros”A minha paz é ignorar
Também tenho alguma dificuldade em visualizar A questão como se fosse algo amoral, como se eu mesma fosse um ser amoral. Talvez seja de mim, não sei, criatura por demais imperfeita, mas sem que me considere “imoral” ou “amoral”. Acho até, que a moral não tem nada a ver com isto. A verdade é que não consigo imaginar isto como uma questão moral, mas apenas como uma proibição legal. Eu acredito em Deus, muito. E ainda não duvido da minha fé porque sou daquelas palermas que não necessita de provas da sua existência para acreditar que ele existe. Pois eu sei que isso já não se usa e que se calhar devia era estar no convento a “estudar para freira”, mas é tal e qual há algum tempo, e não quero para já mudar. Dá-me um certo conforto este Deus. Ele não é castrador, discriminatório ou segregador, mas um Ser sublime porque tem sempre lugar nos seus braços para Todos mesmo os imperfeitos e os ditos “imorais”.
Não vejo porque duas pessoas do mesmo sexo não possam casar se assim o entenderem e desejarem. Se para elas essa união representar a comunhão de uma vida e a liberdade de amar e ser amado, um desejo de juntos caminharem e partilharem bons e maus momentos, de juntos concretizarem um projecto comum, respeitando o outro, as suas diferenças e amando-as como únicas, especiais e verdadeiras, sem que isso represente uma qualquer forma de opressão ou anulabilidade. Celebrar este desejo com quem nos quer bem é bom e, se calhar pode até ser uma recordação grata de um momento feliz. Estas também ajudam quando a vida é traiçoeira e nos desfaz. Pelo menos foi por estes motivos que um dia me casei. Na altura fazia todo o sentido. Hoje vejo o mundo de uma outra forma, acho que para se ter tudo isto o casamento não é uma condição, mas apenas um caminho paralelo, mais formal, quase “oficial” digamos, de se obter o mesmo. E confesso que de início, quando me predispus a pensar neste assunto, o meu lado mais prático levaram-me a pensar “mas por que raio é que estes querem agora casar, qual é o problema de se viver junto como um casal?”Porém entendo quem o queira fazer e quem o deseje. Sei que nestas decisões estão também implícitas muitas questões sucessórias, mas ainda assim, este argumento é demasiado pobre para o justificar. Há cada vez mais formas de protecção legal para quem vive em união de facto.
Por isso, para mim, o casamento entre homossexuais é, antes de mais, uma questão de liberdade, de se ser livre a fazer uma escolha. Se alguém optar por casar com um enorme burgesso(a) que o(a) espanca, humilha, trata mal, que de cada vez que esse alguém abre a boca o(a) manda calar e vocifera alarvemente, em tom de grande remate final, que essa pessoa é uma ignorante e só sabe falar de coisas insignificantes e sem valor. Porque a opinião desse alguém não tem qualquer valor e tudo o que ele(a) faz está mal feito e sobretudo, não pode, de forma alguma, dizer “eu não acho”, ou pensar de forma diferente porque é imediatamente fuzilado com um olhar e humilhações várias. E ainda assim decide toda a vida permanecer a seu lado, vivendo uma vida de plástico, hipócrita, (“vidinha de revista”), ninguém diz nada. Melhor, as pessoas ainda se acham no direito de empregar sempre aquela máxima, extraordinariamente machista e aberrante, “entre marido e mulher não se mete a colher”, ou então tiradas do tipo “coitado mas ele(a) até é muito trabalhador(a) e trata bem os filhos e paga as contas e não anda com outras(outros), o que é que ela(e) quer mais? E só atura porque quer!” Não é só porque quer mas porque a pessoa é livre de optar por viver assim, ainda que deixe de existir como essa pessoa, ainda que seja injusto e cruel para si mesmo e podendo lesar outros que pelo meio vão comungando deste modelo desacertado de vida em comum.. Porque se calhar quereriam apenas algo tão simples como respeito, consideração, reconhecimento, liberdade de pensar como lhe der na real gana e ser feliz como pessoa. Era só isso. Mas aqui não há nada de imoral pois não? È tudo normal.
Seria importante que as pessoas fossem mais flexíveis nos seus juízos morais acerca do que é diferente, que pensassem que a Pessoa Humana pode evoluir não apenas como ser mas como ser que se relaciona, e que, essas formas de relacionamento podem não ser estereotipadas nem estanques. Mas poderão acompanhar a progressão do homem na medida em que este quer e pode ser diferente. Mas não pode, é certo, porque se duas pessoas do mesmo sexo escolherem casar não têm aqui e agora liberdade de o fazer. E esta liberdade não interfere de forma alguma com quaisquer direitos dos outros, não lesa ninguém de facto. È uma escolha de quem quer viver a sua vida de uma outra forma. Não sei se melhor, se pior, sou heterossexual, mas entendo e aceito, como uma manifestação de liberdade quase suprema que haja quem o não seja e não queira ser. E essa liberdade não deve ser tolhida, esse direito que a pessoa tem de fazer escolhas, ainda que não sejam as padronizadas, e que impliquem mudanças por vezes dolorosas num Mundo intolerante e cruel para quem não segue os modelos aceites e impostos. Para mim é essa liberdade que está aqui em causa. Por isso tenho dificuldade em aceitar que o assim não entende. Na verdade para mim é apenas uma forma de limitar uma escolha a quem quer ser feliz. E isso é, a meu ver intolerante. Chamem-me o que quiserem, é o que penso.
Dizem-me que as coisas não são assim tão simples, que as pessoas não estão preparadas para estas mudanças, mas e a violência entre os casais é normal? Não há nada de imoral também aqui? As agressões em todas as suas formas são legítimas? Afinal, existem dois padrões para julgar a liberdade de escolha. Não deveria ser assim.
Deixo as belas e sábias palavras de Ricardo Reis que, muito melhor do que eu, disse tudo acerca disto
Para ser grande sê inteiro, nada teu exagera ou exclui, sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a Lua toda brilha porque alta vive”

3 comentários:

  1. Li e reli o seu post; não consigo perceber o que tem o casamento homossexual a ver com as suas frustações pessoais. Consegue explicá-lo?

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  2. Não tem nada. O que escrevi é uma opinião acerca da vida de duas pessoas do mesmo sexo. Pessoalmente tenho algumas frustrações, como toda a gente mas nenhuma delas se relaciona com o que escrevi. A esse nível já as ultrapassei, felizmente. De qualquer maneira obrigada pela opinião é a sua e respeito-a, e ainda bem que a pode manifestar não é mau pois não?

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  3. VNI, li seu texto e gostei imenso.
    Uma escrita honesta, simples, certeira, inteligente sem ser arrogante. Confesso que quando vi o titulo com o cravo, pensei que seria mais um texto na blogosfera falando sobre a revolucao nua e crua, mas nao, que surpresa agradavel foi verificar sua capacidade em conseguir usufruir da suposta LIBERDADE do tal 25 de abril e falar sobre um tema que ainda hoje proporciona discursos(e sentimentos) imagino eu, como os da era do Salazar. E so por isso, pela apropriacao e perversao do 25 de abril, estarias de parabens nao fosse ainda o conteudo daquilo que escreves. Adoro seu o blog, sua sensibilidade no perceber e facilidade em passar para a escrita o que para muitos de nos e' tao dificil expressar. Que o Vicios na imperfeiesssao continue um espaco de liberdade do pensamento e liberdade de expressao entre todos nos!
    PS:quando voltei a usar o portugues depois anos a fio sem contacto com a lingua ouvi uma vez em uma entrevista um senhor dizendo: "o portugues e' tao rigoroso, tao picuinhas com a escrita que corrige ate cartas de amor"... apesar de minha escrita ser desastrosa, espero que tenhas paciencia em tentar pegar a essencia desvalorizando a forma :)

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