segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

PATER



Tenho por Vicent Lindon uma admiração quase adolescente, embora, ao contrário de muitas outras que felizmente abandonei, esta manteve-se intacta até hoje. Há uns anos gostava do seu ar rebelde e glamorosamente lazy, hoje gosto da imperfeição do seu rosto e do ar melancólico com que diz as palavras. Fui ver o filme "Pater" a pensar nele, por ele, e pela minha companhia que me "raptou" dos dias iguais. Entre tanta monotonia, o diferente é sempre uma aposta ganha. E assim aconteceu. "Pater" de Alain Cavalier é isso mesmo e também uma imensa conversa política entre muitos planos gastronómicos, porque entre pratos se chegam a grandes conclusões. O resto está lá tudo, manipulação, insinuações, intriga. Mas também as bem intencionadas ideias que raramente se concretizam por falta de votos e a seriedade quase pueril dos homens bons. Do outro lado, uma porta sempre aberta a ilimitadas conotações, porque nada é dito de forma explícita, tudo se insinua e sussurra, tudo é torto, imperfeito e enviesado, sem que lá falte nada. Cavalier é esta imagem de homem inteligentemente sedutor a quem dificilmente diríamos que não, mesmo tendo por certo o arrependimento e a vã glória

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A propósito de um lanche ao fim do dia....(Texto antigo/Foto de Underskin)




Não quero o faz de conta, quero o que acontece,

espontaneamente e devagar, mesmo que os outros não vejam,

não sintam mas quero sentir.

Não quero que pareça, quero que seja.

Quero chegar e ver, não a visão do esforço do que se tenta ser, mas as janelas abertas

e o vento a entrar.

Os outros são o pó da estrada de que não me lembro.

O tempo já não é o mesmo, e já não consigo esperar, já não chega, já não satisfaz.

Abandonei para sempre a resignação e hoje só quero saber do sítio onde posso sempre

recomeçar.

Do que vale a pena, do que me afaga, do que me preenche e do que fica comigo,

o resto.... é como alguém me disse um dia,

não vale a pena viver tentando ser o que não somos.



domingo, 27 de novembro de 2011







Fez ontem dez anos que lhe dei a mão pela primeira vez.
Nessa altura ela ainda cabia inteira no meu colo, as mãos dela fechadas em novelo dentro das minhas
e os meus olhos cheios de lágrimas escondidas abraçaram-na
e ela era minha.
Disse-lhe ao ouvido que a adoraria para sempre,
e a vida encheu-se dela e de mim. E guardei-a pequenina,
e passei dias e horas a olhá-la a pensar como seria depois.
E hoje é depois mas ela ainda se senta no meu colo,
de lado e algumas vezes a correr,
ainda me diz ao ouvido, agora baixinho e depois da sua hora de armário, que me adora,
mesmo que antes disso me tenha detestado porque lhe disse que não.
Guardo-a dentro de mim hoje e sempre, e há dias em que,
sem que ela perceba, aperto-lha a mão devagar
e volto a esse momento em que a mão dela cabia toda na minha e ela era só minha.
Estas palavras e a música que ela hoje adora, mas que ainda cantamos as duas, alto e com o vento na cara, junto ao mar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

TO A FRIEND




Naquele dia saí de casa e achei que não podia nada.


Subi as escadas duas a duas e lamentei a vida, circular, e minha.

A parte de mim que ficou por dizer.

O espaço por preencher

e a porta entreaberta.

E o meu riso sossegado onde permaneço,

como se não houvesse nessa hora meias verdades e a mesma estrada,

já não sei o que os meus olhos sentem quando ouço o mar.

Afastei a importância das coisas,

a sua definição concreta e o espaço que ocupam.

Para puder voltar ao que guardo sem deixar de partir.





quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"When silence speaks so loud "

A propósito deste título e desta foto(que não são meus mas de "underskin" as usual):


Os amigos devem opinar, é uma obrigação de amigo, faz parte integrante da condição de ser amigo.

Nada pior de que um amigo que nada diz, nada mais perverso e frustrante do que aquele amigo com

quem finalmente decidimos desatar um qualquer nó e que, depois dessa odisseia que é abrir a porta

que geralmente fechamos, olha para nós e sem nada dizer sentencía um encolher de ombros e arquear

de sobrancelhas e nada. E nós à toa a pensar que não temos prova de que o que contámos é verdade, e

nada do que dissemos faz sentido...

Para um amigo não é preciso prova, o que dizemos é verdadeiro, podemos dizê-lo à nossa maneira,

sem que seja preciso provar nada. É claro que a nossa maneira é, por vezes, enviezada, torta, enfim, a

nossa. Mas para isso os amigos opinam, dizem que se calhar não é assim, que somos uns idiotas, que

há coisas muito mais importantes, mostram-nos outras respostas da mesma equação. Ou

então concordam inteiramente connosco (eu confesso que de vez em quando gosto de sentir esta

metade, talvez menos que já gostei,e outras vezes dou por mim a pensar que precisava que me

dissessem que não é assim), e ficamos com aquele sorriso parvo que sabe bem.

Um amigo toma partido e posição e não quer saber do que vão dizer e do bom senso do politicamente

correcto, e diz o que pensa e explica porquê, devagar e sem ofensa. Não se cala no silêncio repugnante

e apartidário.

É evidente que os amigos não são muletas e que na vida devemos ser capazes de travar as nossas

batalhas e dar conta dos pequenos dramas por nós mesmos, mas de vez em quando partilhar angústias

ou coisas boas faz-nos ser mais gente

terça-feira, 6 de setembro de 2011

PARA QUEM GOSTA DE VOLTAR


Há quem goste de voltar, talvez porque voltar tem em si uma redenção apaziguadora que nos devolve à vida o tempo da ausência. Voltar ao que é seguro e ao concreto dá-nos uma espécie de conforto, ali sabemos que podemos encostar a cabeça, ali sabemos de cor todos os caminhos e tudo parece fácil. Voltar é a rede e o cheiro a casa, o sofá da sala e o riso dos amigos e tudo o que nos é familiar.

Eu não entendia, porque para mim voltar é secundário, eu gosto é de partir. Do frenezim do que é novo, do que não se sabe bem como é, da surpresa, do turbilhão de ideias que nascem da novidade, do sentir que pode ser porque vale a pena, porque tudo se conjuga e faz sentido. Partir é o que me move e me preenche. Detesto ficar muito tempo a fazer a mesma coisa, muito tempo no mesmo sítio, muitas horas a repetir rotinas e dias iguais. Por isso gosto do Verão, os dias são infinitamente maiores, e o tempo ganha uma elasticidade anormal, perfeita para partir e ganhar um novo espaço. Fiquei assim depois de muito tempo à espera, tempo demais.

Descobri isto a pensar em quem gosta de voltar e, paradoxo confesso é certo, em mim que gosto de partir

segunda-feira, 22 de agosto de 2011




Encontrar o espaço em que o amor se partilha,
devolvê-lo aos outros como a celebração do que aconteceu.
Fazer com que uma nuvem seja o céu inteiro
onde nele se encontram nos dias que acontecem.
Sendo dois e apenas um,
para que o tempo se transforme ao passar.


Para M.e P.que fazem parte de mim

domingo, 3 de julho de 2011



"I need some sleep
It can't go on like this
I tried counting sheep
But there's one I always miss"

And I can't let them go. I miss them here, through the small things. I miss them always. I miss them in the most absurd places and everywhere.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O MOMENTO







Eu, criatura viciada, dependente e prisioneira dos adiamentos,
tento em cada dia mutilar a memória do que não fiz e adiei.
Amor e ódio
posso e não posso
é hoje não amanhã
daqui a pouco
mas já??
sobe o sangue à cara
e as mãos manchadas de calor
apertam os dedos enlaçados, enlameados de embaraço....
e num momento apenas descobrir a adrenalina do fazer
a satisfação
do concretizado e ser eu também,
de repente apenas eu.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Correr



Os dias a correr para que o tempo não nos leve a vontade que escondemos....
Entre o início e pelo meio o gesto de todos os dias
E de repente já passou.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

IMPERFEISSSAO



Hoje fui fiel a mim mesma.
Hoje abri a porta e mudei de rua. O padrão que me guia e sussurra ao ouvido
os princípios perfeitos com que calo a voz, ficou lá.
Hoje a minha imperfeição consagrou-se e não me apetece o remorço, a dúvida e o não saber.
Salto inconsciente, impensado e irreflectido que nunca dei, que nunca fiz.
Minha alma é leve e o vento sopra.

terça-feira, 24 de maio de 2011

OS DIAS QUE ADIAMOS

Vendo bem somos apenas os dias que gastamos com ardor para sobreviver.

Em várias caixas caberiam todos os pedaços do que deixo por fazer.


Do que adio, do que penso sempre que posso fazer amanhã.


Do que me preenche e faz ser mais, do que ilumina e me afaga dos dias maus.


Parada à espera, assim fico. E uma voz submersa vai-me dizendo ao ouvido que é hora.


Mas finjo que não o ouço, esse sussurro, que afinal é estridente, porque há sempre mais e agora


não, que não posso, que não pode ser.


E vou-me ouvindo a dizer que se calhar não vale a pena porque ninguém vê nem ninguém sabe e


que se soubessem seria um encolher de ombros sem sentido.


Não prometo nada, não sei prometer.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

À ESPERA


É uma dor que se entranha, que nunca vai embora que nunca passa.
Dias há em que parece não exisitir, em que no atropelo do tempo que corre nem se sente, nem se vê.
E por momentos acreditamos que somos gente outra vez, porque não a sentir é respirar melhor, é correr sempre mas sem os pés presos, é achar que o ínfimo vale a pena.
Outros dias ela chega silenciosa, sem avisar, de repente, sem marcar hora e fica à espera sempre à espera, como uma torneira aberta, à espera.
Foto de underskin

domingo, 2 de janeiro de 2011

O que vale a pena






Não quero o faz de conta, quero o que acontece
espontaneamente e devagar, mesmos que os outros não vejam,
não sintam, mas quero sentir.
Não quero que pareça, quero que seja.
Quero chegar e ver, não a visão do esforço do tentando ser, mas
as janelas abertas e o vento a entrar.
Os outros são o pó da estrada de que não me lembro.
O tempo já não é o mesmo e já não consigo esperar. Já não chega, já não satisfaz.
Abandonei para sempre a resignação e hoje só quero saber do sítio onde posso sempre recomeçar. Do que vale a pena, do que me afaga, do que me preenche e do que fica comigo a fazer parte de mim, o resto não vale a pena, não vale a pena viver a vida tentando ser o que não somos.