terça-feira, 29 de setembro de 2009


Havia um barco pequeno ao largo da ilha de mim. Dei por ele quase sem querer num dia em que não se via nada. As nuvens cobriam toda a atmosfera e o sol parecia ter desaparecido para sempre. De repente no meio de nada vi aquele barco. Parei e olhei em volta, achei que tinha saído daquela tormenta e entrado num lugar qualquer que existiria apenas fora de tudo. Voltei a olhar, mas via apenas o barco. Tudo o resto desaparecera. As pessoas, o mundo. Era só eu e aquele barco que de um momento para o outro se aproximou de mim, tocou-me levemente como quem chama a atenção de quem nada vê. Olhei para ele e lembro-me de ter pensado que estaria a dormir, tudo era estranho, denso, e no meio do nada aquele barco.
Pensei que fosse para subir, mas de cada vez que tentei ele afastou-se. Apeteceu-me virar-lhe costas e continuar a tentar abrir a porta do nevoeiro. Mas havia algo nele que não me deixava, queria definitivamente dizer-me qualquer coisa.
E eu, olhando para ele de longe, e ele atrás de mim a empurrar-me.
Queria urgentemente acordar.
Doía-me o corpo como se me espetassem facas, queria deixar-me cair em qualquer lado e aí ficar, queria voltar para dentro da neblina, sabia que esse não era o caminho, mas queria lá voltar. Sabia que por ali iria ter àquele lugar sombrio, acidentado, mas doentiamente sedutor.
Este barco tinha qualquer paz, que eu no meio de tanta guerra, desconhecia. E continuava ali, como alguém a olhar para e por mim. Subitamente, ao pé dele a vida mudava de cor, tudo parecia tão fácil, tão calmo e sereno. Devia ser bom, mas por que razão me assustava?
E eu insistia em subir e ele persistia em não me deixar.
Até que percebi. Percebi que não havia nada de mal ali, era apenas um mundo que eu desconhecia junto a algo que nunca experimentara.
Ele queria apenas navegar ao meu lado, queria que eu andasse com ele ao meu lado, mas que fosse eu a caminhar. Deixei-me ir, junto a ele, caí muitas vezes e ele, ao de leve e subtilmente, levantou-me.
Para a Micha, com toda a amizade, por me ter ajudado a ser o que sou hoje.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ESPARVOAR 1


Haverá disto em saldos? Não, acho que não...
Não me resta senão esperar e beber café de saco.
Mas um dia ainda vou ter uma! Adoro um bom café.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O NINGUÉM


José Luís Peixoto criou num dos seus livros uma personagem a que chamou Ninguém.

Hoje essa figura está dentro de mim, sou eu.
Eu sinto-me um Ninguém, como se a minha existência fosse surda, muda e cega.
Não quero voltar ao sítio onde vivi submersa debaixo de um lençol, mas tenho tanta raiva de mim mesma por lá ter ficado tanto tempo,
por não ter visto,
por não ser melhor,
maior,
por nunca ter coragem,
por nunca sair de dentro de mim,
por me ter sempre escondido e esconder,
por não saber de cor, como tantos, um caminho para chegar a um sítio qualquer em paz.
Queria ter um mapa, alguém conhece algum?
Alguém nos diz como, de que maneira gerir a vida sem escorregar?
Se calhar não há maneira, nem mapa, se calhar vou ser este Ninguém muito tempo, muitas horas.

Eu sei, já sei

que tem que ser,

que não há maneira,

que é assim mesmo,

eu já sei.

Mas não podia ser menos???
Nota:Foto, como sempre de underskin