sexta-feira, 28 de dezembro de 2012



 
""Só sou verdadeiro onde sou feliz, no meu lugar mágico, substantivo, tremendo. Quando se apagam as luzes da noite é mais noite ainda. Como se nos encaminhássemos para a eternidade, para  a paixão desmesurada pelo silêncio. Então crescem-me os braços através da linguagem, as palavras adoçam, a cada momento, estrelas e frutos de cores limpas e arrebatadas.    E vem aí o verão, outra vez."   Joaquim Pessoa, "Ano Comum"                                

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Incomodam-me as pessoas a quem temos constantemente de recordar os limites do seu espaço,
a fronteira das suas palavras.
Incomoda-me porque me invadem,
porque não percebem o outro,
o outro é o estendal da roupa para sacudir
o pó e a caixa para atirar almofadas.
Incomoda-me sobretudo que não percebam
esta invasão e que a indignação seja uma
surpresa, porque são sempre muito bem intencionadas.
O outro é que não.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Eu sabia que os reencontros com os verdadeiros amigos são quase sempre uma partida ganha, e que quando eles me acontecem fico maior, melhor, cheia de esperança e a achar que a vida até é fácil.
Aquele lugar-comum que sempre dizemos “voltamos a estar juntos como se nunca nos tivéssemos separado”, merece ser vivido, merece ser dito, merece ser engrandecido.
A mim tem-me acontecido com alguma frequência, porque hoje sou eu de outra maneira.
Esta música é para eles, que me abriram novamente a porta como se ela nunca se tivesse realmente fechado.


terça-feira, 10 de abril de 2012

OS SILÊNCIOS - INGMAR BERGMAN



Há silêncios ensurdecedores,
enchem de pó e sujidade as mãos que os tocam,
Há  silêncios que deviam ser escondidos,
destapados abertos,
esvaziados.
A estes silêncios devia dar-se o sentido das palavras,
e deixá-los imóveis submersos
longe dos outros, dos que são precisos
e que fazemos nossos.

domingo, 1 de abril de 2012

NÓS AS MÃES

Nós as mães fazemos aquelas figurinhas tristes de roer as unhas como se não houvesse amanhã(as de gel e as outras)

Apertamos as mãos a torcer para que tudo corra bem, para que ninguém caia, para que as piruetas sejam perfeitas, não haja esquecimentos e para que o próximo passo seja o ideal.

Nós as mães fechamos os olhos a meio do salto como se isso fosse um elixir mágico que irá tornar o desempenho perfeito, ou quase.

O coração bate descompassado e a tremer, queremos ver tudo, mas também queremos que acabe depressa para que finalmente possamos soltar a adrenalina e respirar fundo.

Nós as mães de repente somos cabeleireiras, sem nunca termos tido qualquer intuição para pentear cabelo, cosemos sapatilhas sem nunca termos sabido dar um ponto, corremos de madrugada a fazer lanches e a preparar a roupa.

Nós as mães somos uma totós quando olhamos para elas/eles corajosos que enfrentam uma sala cheia, e deixamos as lágrimas correr desabridas, borratadas e a dada altura já nem queremos saber choramos porque sim e porque não, porque eles/elas fazem parte e nós e uma parte de nós está a crescer e a dar luta ao mundo.

Não aguentamos tanta comoção, o coração extravasa e tem que ser.

Chamem-me o que quiserem, mãe galinha, mãe chorona, mãe vaidosa, mãe possessiva, quero lá saber, vou chorar sempre e sempre que algum dos meus filhos mostre ao mundo o que vale e concretize um desejo.