terça-feira, 12 de outubro de 2010

A SALA

Naquele dia percebi finalmente o significado de “palavras com som metálico”.
“Não respire”, seguido de “pode respirar”, vezes sem conta atirados a mim, naquela sala escurecida e gasta, vestida de móveis decrépitos e máquinas com botões.
Leio o meu livro e olho para aquela divisão, para aquelas pessoas, e penso, tantas vidas suspensas à espera da máquina, tantas vidas à espera. E eu à espera.
Ouço o meu nome e sinto os olhos atrás de mim.
A exposição do nosso nome em voz alta é odiosa, deixa-nos desnudados, num segundo toda a gente que não conhecemos sabe tudo acerca de nós, toda a vida num só nome. Os olhos levantam-se, fixam-se em nós, acompanham o erguer da cadeira, o guardar o livro, o pegar na carteira, e finalmente chegam ao rosto, à espera que a nossa cara vomite o que somos ou o que temos.
O ar de enfado, de rotina colada aos gestos, o ar de quem já não sente nada porque não vale a pena, porque o que é estranho se converteu em trivial.
Não ouço nada do que a senhora diz, vejo a cara dela, os gestos, parece simpática, mas as palavras estão enevoadas, chegam-me distorcidas, e a uma voz distante atiro monossílabos para não parecer mal.
Alguém devia dizer a estas pessoas que deviam pintar as paredes de branco e rasgar as janelas, é que quando falam connosco seria bom, pelo menos, que houvesse sol na sala.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O REENCONTRO


Aquela foi a noite do reencontro, de relembrar momentos e o tempo que aconchegaram dentro de si e que agora voltara.
Aquela foi a noite há muito prometida cheia de abraços e de risos,
afagada, vivida e a primeira de muitas
com que irão preencher os vazios e dar sentido à vida.