terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Don't haunt this heart (Texas)




Atravesso a rua e sei que naquela janela, naquela janela,
os olhos atrás da franja,
os olhos que falam mas não se ouvem, ficaram naquela janela quando
se fez noite e não te vi mais,
o som suave atrás de mim, a passar ao meu lado atrás da franja, à minha espera e depois
só isso, o silêncio das palavras que nunca vieram.
Nesse dia, saí de casa e segui o mesmo caminho, mas a rua parecia deserta e eu não ouvia nada,
ignorei os sinais, porque faziam parte de ti, havia dias em que simplesmente não existias,
devia ter pressentido, devia, que aquele silêncio era sombrio e que o calor era frio e chovia.
Nunca mais desci a rua a pé mas há dias em que pareces estar à minha espera,
atrás da franja, da janela, atrás dos olhos e dos outros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

HOJE

Hoje sinto o vento a bater-me na cara,
Hoje fechei as portas e vou de viagem.
Hoje sou eu e outra pessoa,
Hoje gosto de tudo.
Hoje a vida abraçou-me e sou feliz.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Há palavras que nos beijam

"Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca, Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto, Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama letra a letra revelado No mármore distraído, no papel abandonado) Palavras que nos transportam aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte."

Alexandre O'Neill

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A SALA

Naquele dia percebi finalmente o significado de “palavras com som metálico”.
“Não respire”, seguido de “pode respirar”, vezes sem conta atirados a mim, naquela sala escurecida e gasta, vestida de móveis decrépitos e máquinas com botões.
Leio o meu livro e olho para aquela divisão, para aquelas pessoas, e penso, tantas vidas suspensas à espera da máquina, tantas vidas à espera. E eu à espera.
Ouço o meu nome e sinto os olhos atrás de mim.
A exposição do nosso nome em voz alta é odiosa, deixa-nos desnudados, num segundo toda a gente que não conhecemos sabe tudo acerca de nós, toda a vida num só nome. Os olhos levantam-se, fixam-se em nós, acompanham o erguer da cadeira, o guardar o livro, o pegar na carteira, e finalmente chegam ao rosto, à espera que a nossa cara vomite o que somos ou o que temos.
O ar de enfado, de rotina colada aos gestos, o ar de quem já não sente nada porque não vale a pena, porque o que é estranho se converteu em trivial.
Não ouço nada do que a senhora diz, vejo a cara dela, os gestos, parece simpática, mas as palavras estão enevoadas, chegam-me distorcidas, e a uma voz distante atiro monossílabos para não parecer mal.
Alguém devia dizer a estas pessoas que deviam pintar as paredes de branco e rasgar as janelas, é que quando falam connosco seria bom, pelo menos, que houvesse sol na sala.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O REENCONTRO


Aquela foi a noite do reencontro, de relembrar momentos e o tempo que aconchegaram dentro de si e que agora voltara.
Aquela foi a noite há muito prometida cheia de abraços e de risos,
afagada, vivida e a primeira de muitas
com que irão preencher os vazios e dar sentido à vida.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Esse Dia

Devíamos ser sempre livres. Devia existir um recanto qualquer dentro de nós impossível de alcançar por quem quer que fosse. Seria nosso apenas. Lá seríamos sempre livres. Uma parte do dia seria essa parte nossa, sem que tivesse que ser porque sim e porque não. Era nossa.
Dizem que há sempre um preço para todas as coisas na vida que conquistamos. Como se cada vitória tivesse um revés. Como se não pudéssemos ser felizes com as coisas boas que conseguimos obter com esforço, dedicação e mudança. Porque a seguir vem logo uma má que ensombra tudo. Na verdade convivemos mal com a sensação de ser ou estar feliz, com receio de a perder, desfazemos a pó o absurdo que é o de não darmos a nós mesmos o direito de viver essa fracção de segundo em que somos felizes.
Crescemos a pensar que a felicidade e a liberdade são um luxo e um crime. Um luxo que não nos podemos permitir e um crime que jamais poderemos cometer. Sermos livres e felizes é criminoso. Compramos certas batalhas na expectativa de pacificar os nossos diabos mas esta paz parece uma utopia, porque não nos permitimos o prazer de consumir esse momento. Se o soubéssemos esgotar, agigantar a sua pequenez, apenas dentro de nós, transformando esse estorvo em colo, se conseguíssemos pousar nele a nossa cabeça e todo o cansaço do mundo, sim, se soubéssemos estimar o desejo convertido, esbanjá-lo, congratularmo-nos e rir, rir muito, assim a paz seria realmente nossa, nesse dia foi o que fizemos……

domingo, 29 de agosto de 2010

A JANELA

Subimos as escadas a correr e batemos contra a porta porque ela já devia estar aberta,
mas era a janela, foi a janela que não vimos,
ainda era cedo e por enquanto era a penas
a janela...

domingo, 15 de agosto de 2010

Os laços que nos unem


Os laços que nos unem não se vêem, só se sentem.
Ninguém sabe onde estão, porque os temos apagados, raramente se acendem na rotina que carregamos.
Invisíveis ao olhar que nada sabe, submersos no que somos e fazemos.
Assim os guardamos como nós apertados que
nunca desatamos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

A IMPERFEIÇÃO


Gosto do imperfeito, mas quero a perfeição.
Gosto da imperfeição dos outros, dos caminhos sem sentido, dos defeitos, dos corpos que apenas o são, dos que deixam na vida uma marca qualquer.
Gosto do que não faz sentido e que tudo une. Gosto da imperfeição mas agonizo com a minha.
Quando se instala fecho todas as portas e agonizo à espera.
Conto e revejo todos os erros, e os ses que devia ter convertido em actos e que deixei para trás.
Tortura-me o que fica por dizer. A vida fica suspensa à minha espera.
E o que deixei de fazer, a imperfeição do que fiz condenam tudo e como uma névoa não vejo bem.
Regresso à viagem circular.
Mas gostei daquele fim de tarde,
porque há tanto tempo
não nos sentávamos na praça a falar de nós.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MISSING THESE DAYS



Hoje lembro-me daqueles dias e sinto falta.

O tempo e a ausência desfiados explicam

o que os outros

deixam em nós de único e nosso.

Este tempo abstracto onde estamos e não damos conta.

E quando esse tempo se concretiza e se impõe, acordamos finalmente

para a importância desses momentos nos dias que largamos.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

SHE SMELLS...


and she smells
and she smells
the smell of the beauty
the smell of the baby
the smell of cooking food in the kitchen
and she smells and smells and smells
the new old smells
the same
but now she smells….

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A CERTEZA

Mas o que vem a correr para mim daquele tempo é o riso.
Aquele riso trespassado de vida que achávamos difícil, mas que hoje sabemos que não, que tudo não passava de horas boas com pequenos intervalos de angústia, porque no dia a seguir aquele riso colava todas as peças fora de sítio e tudo voltava ao seu lugar.
É esta certeza, que ainda hoje perdura em mim, e que o tempo não desfez, que a memória daquele riso devolve.
Quando penso nesse tempo não tenho vontade de lá voltar, mas gosto de pensar nele assim, como a memória desse riso que hoje faz parte de mim e que não me pode abandonar.

sábado, 29 de maio de 2010

RARAS PESSOAS



As palavras serão sempre poucas,
sempre loucas,
para dizer a identidade,
a comunhão,
a paz
que encontramos em raras pessoas
que com linhas suaves
cruzam a nossa vida.....

quarta-feira, 19 de maio de 2010

INTERVALO

Intervalo de black out .....

À procura de um caminho

numa noite de conversa

onde a vida passou devagar e parecia tudo fácil....

quinta-feira, 6 de maio de 2010

EM QUE LUGAR?



Ficara presa ali nesse lugar inóspito e a seguir nada….
Nada na vida soubera retirar dali aquilo em que se tornara
Nem tempo nem espaço nem palavras
Simplesmente nada….

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aquilo que vem ao nosso encontro

Raramente programo aquilo de que gosto, ou seja, o que me surpreende normalmente vem ao meu encontro sem que eu o espere, embora secretamente o deseje.

Tudo em que tropeço porque mo mostram ou o que descubro porque à procura de um caminho já fiz um roteiro, esse tudo quando é tanto e muito apazigua-me com a vida e dá-me qualquer coisa semelhante a uma tranquilidade verdadeira, hoje quase intangível...

A propósito de Sharyah Mazgani, que hoje veio ao meu encontro e que espero ouvir em breve.

Obrigada R.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sometimes It Hurts

As palavras



Não digo as palavras.
Não sei se é propositado, sei que elas chegam em bandos, umas vezes apaziguam, outras incendeiam.
Sei que não quero dizer as palavras todas a toda a gente, que detesto ter que dizer as palavras quando elas vão ficar pelo caminho, e também que algumas palavras não ditas me atormentam.
E no entanto recordo todas as palavras que me entregaram atiradas ou envolvidas.
Conheço a sua fúria quando traem o que penso. E a mesma ira quando se calam por cobardia minha e por não haver tempo.
Sei de cor o que provocam e não sei a hora certa e o momento exacto de as soltar ou guardar.

sábado, 17 de abril de 2010

CONJUGANDO O VERBO IR


Conjugando verbo ir apenas no presente:
eu vou, eu vou, eu vou, eu vou........

O FIM DE TODO O INÍCIO



Ela iluminou o caminho, foi o fio condutor a verdadeira criadora de um esforço ilimitado. A âncora onde todos repousam. Iniciou um caminho e guiou-nos com toda a coragem, ousou pisar um patamar minado do que é diferente, onde só alguns ascendem e por isso muitas vezes incompreendido. Guardo uma admiração profunda e acredito que com a coragem que a torna única voltará. Eu também.

Dia 3 - O GRANDE DIA


E CHEGOU O GRANDE DIA, A RUA ERA APENAS O ESPAÇO, A DANÇA CONVERTIDA EM AR QUE ENTROU DENTRO DE NÓS E NOS ENCHEU DE UM ORGULHO SEM FIM. FELIZES COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dia 2 - A preparação


Correram escada a escada para que nada faltasse e aquela madrugada parecia já um dia feito.
De mãos juntas selaram cabelos, confirmaram peça a peça o que poderia ser esquecido e num frenesim ordenado, como que por magia, tudo estava no seu lugar.

domingo, 11 de abril de 2010

DIA 1 - A VIAGEM


De noite ainda partiram.
as malas feitas onde guardaram toda a esperança e horas de voo sem fim.
De noite ainda sentiram que podiam e que assim seria.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A PARTIDA


De partida à aventura de uma dança.
Para breve um relato dos dias ao sul
na vida de quem espreita a vida de quem dança.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

ALICE


Meet Alice isn't she pretty???

segunda-feira, 29 de março de 2010

A relatividade das coisas

A corda foi deixada para trás pelo homem que criou o mundo
Uma corda é apenas uma corda face à imensidão da criação
Um dia um náufrago latejando de dor e de cansaço viu a corda
e consumiu a réstia de vida à espera de si.
A corda era apenas a corda, objecto vazio e inútil,
de súbito transformado, em ilimitada esperança.

domingo, 28 de março de 2010

O pescador de peixe vermelho


O pescador sentou-se na rocha
E olhou o mar
Aspirou o ar tranquilo de uma manhã
de Verão
pensou na vida tantas vezes pesada
e deixou-a cair.
Naquele momento era só ele despojado de tudo
e o mar.
Poderia ficar ali para sempre não fossem os peixes vermelhos
Que em catadupa saltavam.
Poderia achar que a vida era apenas aquilo, ele e os peixes vermelhos,
Para sempre.


terça-feira, 23 de março de 2010

IMPRESSÓES DIGITAIS



Devemos deixá-las na vida nos outros no que se escolhe,
em tudo o que queremos e em tudo o que negamos.
Impressas em nós e nos outros.
Só assim a liberdade suprema fará sentido,
só assim o olhar para trás fará valer a pena seguir em frente.

domingo, 21 de março de 2010

'My Mistakes Were Made For You'

É como se houvesse um prédio com dois elevadores e tu estivesses num e eu noutro e mesmo assim isso seria muito longe.

sábado, 20 de março de 2010

GIRLFRIEND IN A COMA

Tantas horas e tantos dias da minha vida esta música andou atrás de mim, e, hoje ainda, há um pássaro que voa cá dentro quando a ouço.

BORBOLETAS




Combinámos nesse dia ir caçar borboletas e nessa hora havia apenas borboletas e nada mais no mundo.
E de repente nada.
Havia tantas borboletas na vida porque não?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Estes olhos

Vejo aqueles olhos de noite a pedirem por mim
Cheios de chuva chamam
Vejo o sorriso que já foi alegre fechado para dentro
Onde não estou.
Sinto os meus braços longe e queria que eles estivessem perto de chegar ali.
Esta chuva fria que suja e podia limpar.
Queria que o meu abraço cuidasse sempre de forma contínua
estes olhos, e os embalasse longe do que é mau.
Queria saber de cor como iluminar estes olhos que hoje tão tristes pedem por mim.

sábado, 6 de março de 2010




E assim ficávamos a ouvir a chuva a bater na janela do telhado, deitádos no chão e a olhar para o céu, à espera de nada, só a ouvi-la, nós a chuva e esse silêncio.
Aquela paz andou comigo a vida inteira quando entre guerras fui obrigado a continuar.

In the memory




To the good old days... something about today

sexta-feira, 5 de março de 2010

O CAMINHO


É por aqui , por aqui que vamos. Abriram-se as portas e já sabemos o caminho.
Hoje temos a Esperança refeita, estilhaçámos o vidro que como névoa embaciada
despia a vida de direcção.
Hoje o medo encolheu,
somos só nós, e temos o caminho. É só seguir. Ir rompendo a estrada contra o vento, e seguir.

segunda-feira, 1 de março de 2010

MÃOS EM XADREZ


E assim vamos de mãos dadas a um novo recomeço.
De mãos dadas tudo é fácil.
Mãos nas mãos a vida flui sem cansaço.
Guardamos a esperança nestas mãos e empurramos o medo com a ajuda dos pássaros que em redor esvoaçam porque é amanhã.
Para quem está de volta sem nunca nos ter deixado.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Encontro







"Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim
só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim"

Almada Negreiros

NÃONÃONÃONÃONÃO

Fechou a boca e calou-se. Mas queria gritar.
Argumentou com respostas feitas, emolduradas de diplomacia e tacto.
Mas o que queria era dizer que não e não estar ali.
Encontrou uma forma de ser correcta trancando os olhos às lágrimas e afastando a raiva com palavras inventadas.
Vestiu a roupa do que tem que ser e mandou calar aquele desespero que não a deixava ir embora, e dizer que não sem se sentir cobarde, vazia, sem questionar todas as certezas de uma qualquer opinião. Naquele momento queria apenas sair e estar sozinha, de fora daquela gente, daquele espaço e daquele momento. Impossível, inevitável.
Disse mal da vida e seguiu em frente.
Texto escrito há algum tempo para uma foto de underskincomma.blogspot.com, já não me lembro bem qual mas as palavras são de Hoje.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ENJOY THE SILENCE - RETURN

Quero o riso sossegado
E o calor do abraço
o afago das palavras
iluminadas
Quero outra vez e mais
achar a vida fácil
quando ouço e digo a conversa desfiada
pelas noites
onde muitos caminhos desaguam
no mesmo sítio.
Quero dias e horas de paz,
da que me trouxeram embrulhada
como uma prenda que desconhecia.
Quero apagar a distância
E fazer de conta que amanhã
vou abrir a porta e saber onde estou
porque estás aqui.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A noite que era para ser a ver um filme II


Esta noite eu era outra vez o Ninguém. Um resto de mim arrastava o peso deste corpo. Este resto olhava em volta e não via nada, só o resto preso às coisas que não fiz. As coisas que mandam neste resto e o carregam. Eu era só o resto e o Ninguém.
Nesta noite não vimos o filme, porque ainda outra vez as palavras tomaram conta do tempo e de nós. Nesta noite rimos muito da vida e ela de repente era leve e eu já não era apenas o ninguém, era a esperança iluminada de um dia a viajar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

LHASA DE SELA - ADIEU


Só o silêncio, esse silêncio estúpido.

E como quem atira uma pedra dizemos adeus.

Inevitável e agonizante. Adeus.

O que fazemos com este vazio? Tentamos é certo, tentamos.

Numa obsessão fatal de conseguirmos. Conseguiremos?

Adeus.

Cola-se a nós como uma sombra e em nós permanece, cronicamente faz parte de nós.

A Lhasa e a um amigo a quem dissémos adeus.