quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

AO LIXO COM AS TRALHAS DE 2009!!!!


Todas as tralhas que nos pesaram, que nos angustiaram, que nos prenderam, todas as tralhas do mundo para o lixo no fim de 2009!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

CONTO DE NATAL



Havia qualquer coisa no Natal que a enfadava. Já fora, para si, a melhor época do ano. Hoje não.
Nascia Jesus é certo, mas isso sentia-o todo o ano e todos os dias junto de si.
Era a “festa da família”, mas que família? A maior parte das pessoas não via nem sabia da família o ano inteiro, essa família com que se reuniam no Natal eram desconhecidos a quem compravam um presente só porque era Natal. Não sabiam do que gostavam, o que sentiam nem mesmo sabiam bem onde moravam. Eram família. Era Natal.

Na verdade, para muitos a família eram os amigos que adoravam e com quem partilhavam as horas e os dias, os que estavam ali ao lado todo o ano, aqueles com quem se sentiam em casa, que os procuravam e que procuravam. Com esses estariam em paz e sentiriam o Natal como uma festa não como um ritual que se repete monótono e quase gestual.
Sabia que para alguns a família era outra coisa, a comunhão das horas e a cumplicidade dos momentos, para alguns o Natal era rever e saber dos outros, esses outros com quem não partilhavam todos os dias mas com quem iam coleccionando segundos ao telefone e mensagens para que nesse repetir as palavras fossem deixando rastos de si mesmos. E esses rastos facilitariam a vida e as horas más, nesses rastos se albergariam os nadas que sabiam de todos e com eles estariam mais perto, mais dentro e mais presentes.
Para outros os amigos são isto mesmo, a família que não têm, que nunca tiveram e que só descobriram mais tarde, à medida que o tempo foi passando e que se iam deixando nos outros e os outros em si. Pena era que estavam todos demasiado ocupados a tentar encontrar família nos restos dela mesma. Demasiado ocupados a tentar encontrar um presente adequado que é sempre desadequado porque nesta busca apressada em que qualquer coisa serve só porque tem que ser, o tudo fica pelo caminho. O tudo é o que vale a pena. É a cumplicidade partilhada que se revela quando se oferece o que o outro verdadeiramente gosta, e a esta só ascende quem “perde” tempo a conhecer, quem está atento às palavras, quem ouve devagar e precisa desse tempo escondido que poucos encontram e fazem seu.
A euforia do presente consome o tempo e a alegria da procura, banaliza o gesto e diminui valor ao Natal.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A MÚSICA

Naquelas viagens em trabalho ouviu vezes sem conta esta música, ouviu-a e cantou-lha porque sempre ouvira dizer que as crianças mesmo quando ainda não nasceram ouvem. E queria que ela sentisse como sentia essa felicidade imensa que fora saber que ela existia. Queria dar-lha de presente, queria fazê-la perceber que na vida alguém a queria muito e tinha tantas coisas para lhe ensinar, e tanto desejo de a ajudar a ser gente, de lhe mostar o mundo, a música, os livros e a poesia.

E esta música cantou-lha no tempo que esperou para ela chegar e depois, nas noites inteiras em que quase não dormia a pensar no que poderia acontecer. Cantou-lha muitas vezes como se ela fosse um rio tranquilo que a afagava, que as afagava às duas nos dias em que havia chuva e o frio não era apenas do tempo. Era de dentro e escuro. Cantou-lha quase sem voz perdida entre lamentos e lágrimas e por dentro do riso e dos dias bons.

Hoje continua a cantar-lha mas em silêncio, quando ela não está porque de novo voltam as imagens dos abraços em braços pequenos que a apaziguavam com o mundo e com as pessoas. Hoje continua a cantar-lha em voz alta para ela se lembrar que ela está ali.