domingo, 19 de julho de 2009

OS NÓS



Há um café onde vou que tem ao balcão uma senhora com quem falo de tudo e de nada. Chama-se Berta e conta-me, entre galões e sandes de queijo, o que a vida lhe tirou. Tem sempre um sorriso, mas nesses sorrisos está toda a tristeza do mundo. Os seus olhos são sempre um rio de lágrimas escondido. Fechou há algum tempo a porta da companhia e marcou a vida com a solidão. Porque lhe tiraram o Amor com que quis construir um caminho. E ela trancou-se com uma chave que perdeu para não mais se abrir. Pode estar a brincar com o mundo mas o seu rosto mente e lá dentro há uma dor infinita que nunca passa. Uma melancolia que se pressente e que já não tenta esconder. Aqueles olhos dizem com um grito surdo o que muitos não ouvem nem vêem, que as manhãs agora são todas iguais e que nunca mais irá voltar a deixá-los sorrir. Gosto dela porque sem pedir licença contou-me como perdeu essa vida (tenho esta coisa estranha de levar as pessoas a falar de si, acho que é porque não me limito a dizer bom dia, gosto de saber os nomes e pergunto pela vida, sou assim…) e como todos os dias os seus olhos deitam lágrimas à conta disso. Gosto dela porque apesar desse desgosto e desse nó que nunca desata, porque não quer, ainda encontra forças para se levantar e ouvir os outros. Gostava de poder apagar essa tristeza que a consome, mas digo até amanhã e volto no dia a seguir para ver os seus olhos cheios de lágrimas escondidas que poucos vêem.

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