domingo, 19 de julho de 2009

JLP revisitado


Acabei de ler “Uma casa na Escuridão”
Não queria, adiei-o até não poder mais. É sempre assim com os livros de JLP, adio o final como se esse adiar da separação, já de si inevitável, me deixasse menos órfã. Só faltavam três folhas e eu até já sabia o final (sim sou daquelas maluquinhas que lê o fim antes do início, é inevitável, faço sempre isto…) mas queria aquele livro mais tempo, queria que aquele livro fizesse parte de mim mais dias. Até que acabei. Mas ainda não o arrumei dentro de mim, ainda ando com ele às voltas a pensar na maneira como ele chegou até mim e me esmagou literalmente.
Pode dizer-se que “Uma casa na Escuridão”
é a história de uma casa, ou dos dias que passam nessa casa, e das pessoas que moram nessa casa, mas isso seria reduzir a nada uma história cheia de tudo, porque “Uma casa na Escuridão” é muito mais, é a vida de um escritor que ama uma mulher que vive apenas dentro de si. Uma mulher que morrera, mas que vivia dentro de si. E que ele amou como nenhuma, e é esse amor que no fim vem buscar a vida para um outro sítio. É a história de uma família numa casa num lugar qualquer. A ausência do espaço definido, o tempo dos sentidos, as personagens imaginárias e o conceito imperfeito dessa família que existe sem existir. A crueldade do mundo escrita e dita sem hora e sem a marca do concreto. A Dor toda que nos invade e consome, em vidas como a nossa sem o serem. E que no final tudo compõe como um conjunto perfeito ou imperfeito.

“Uma Casa na Escuridão”trouxe-me uma comoção sublime em cada página que li. Iluminou-me como pessoa, tornou-me maior e mais viva, apesar de todo o sofrimento e melancolia que o trespassa. Abriu-me muito os olhos e aprofundou uma dimensão guardada, envergonhada. Trouxe-a à superfície e agora sou maior à conta disso. Todas as suas palavras entram em nós violentamente e acordam-nos do torpor. Apetece declamá-las, dizê-las alto para que se tornem ainda mais reais. Os sentimentos definidos dentro de caixas de emoção, aquela emoção contida que receamos mostrar. A vida a passar e as imagens que nos despertam para o que acontece, para o que damos conta mas em que nunca pensamos. Magnífico apenas.

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