terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A MÚSICA

Naquelas viagens em trabalho ouviu vezes sem conta esta música, ouviu-a e cantou-lha porque sempre ouvira dizer que as crianças mesmo quando ainda não nasceram ouvem. E queria que ela sentisse como sentia essa felicidade imensa que fora saber que ela existia. Queria dar-lha de presente, queria fazê-la perceber que na vida alguém a queria muito e tinha tantas coisas para lhe ensinar, e tanto desejo de a ajudar a ser gente, de lhe mostar o mundo, a música, os livros e a poesia.

E esta música cantou-lha no tempo que esperou para ela chegar e depois, nas noites inteiras em que quase não dormia a pensar no que poderia acontecer. Cantou-lha muitas vezes como se ela fosse um rio tranquilo que a afagava, que as afagava às duas nos dias em que havia chuva e o frio não era apenas do tempo. Era de dentro e escuro. Cantou-lha quase sem voz perdida entre lamentos e lágrimas e por dentro do riso e dos dias bons.

Hoje continua a cantar-lha mas em silêncio, quando ela não está porque de novo voltam as imagens dos abraços em braços pequenos que a apaziguavam com o mundo e com as pessoas. Hoje continua a cantar-lha em voz alta para ela se lembrar que ela está ali.

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