domingo, 8 de novembro de 2009

Adeus

Nunca se disse Adeus. Seguimos todos a vida como se ela fosse a mesma.
Mas não era, eu não era e ninguém viu.
Chove tanto agora. Chove na terra toda e dentro de mim. Não me fui embora mas parece que sim. Todos acharam que sim, que nada mais havia a fazer. É preciso coragem para as palavras. As palavras não ditas criam toda a dúvida, e a dúvida afasta. Deviam ter vindo, as palavras, deviam ter apagado o silêncio e ter inundado a incerteza com a luz do que existe, do que é concreto e seguro.
Por vezes achamos que estamos nas pessoas, que elas são nossas e nós delas, mas não.
Começar tem este desígnio de ser preciso caminhar sozinho para se ter companhia. De nos desentranharmos de nós, de descontaminarmos a forma como nos damos aos outros, do que pensamos dos outros. Dos outros até.
Para sermos gente outra vez. E neste Adeus fictício achamos tantas vezes que o mundo acabou, quando, na realidade, ele começa. E aquela dor que sentimos quando olhamos para trás, para o que fomos, para o que fizemos, para todos os que lá deixámos, aquela mágoa estúpida que nos faz não querer estar lá e simultaneamente ter pena de não estar, este absurdo de dor é que nos faz duvidar da nossa mesma humanidade

3 comentários:

  1. Muito, muito bonito!!! O fim que não é o fim, mas sim o começo! Foi assim que eu me senti, há muitos anos atrás... Quando o meu "fim" foi o meu "começo". Como mulher! Tão diferente daquela que existia até aí! E de quem eu gosto muito mais!
    E tu também vais gostar mais de ti. Tenho a certeza! :-)

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  2. Querida Laura:

    É bom saber que há quem me leia, de vez em quando sabe bem. Obrigada. Sou seguramente uma melhor pessoa e gosto sem dúvida muito mais de mim assim. Este texto também foi feito a pensar em muitas pessoas que conheci e que foram importantes para mim, em muitas histórias que vivi com elas e na ausência e acima de tudo no seu silêncio.Mil bjs

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  3. Será que o "Adeus" existe? E será que tem que existir? É que a nossa vida, indiscutivelmente, esteve "lá", e isso jamais esqueceremos.
    Não será mais importante tirar partido da experiência para recomeçar e mudar. Tu sabes que o passado não se apaga, podemos é aprender com ele a ser diferentes. E, isso, tu já conseguiste, já és outra pessoa, nunca perdendo a tua essência, que sempre foi boa e que sempre adorei!Era impossível não gostares de ti!

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