quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
AO LIXO COM AS TRALHAS DE 2009!!!!
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
CONTO DE NATAL
Nascia Jesus é certo, mas isso sentia-o todo o ano e todos os dias junto de si.
Era a “festa da família”, mas que família? A maior parte das pessoas não via nem sabia da família o ano inteiro, essa família com que se reuniam no Natal eram desconhecidos a quem compravam um presente só porque era Natal. Não sabiam do que gostavam, o que sentiam nem mesmo sabiam bem onde moravam. Eram família. Era Natal.
Sabia que para alguns a família era outra coisa, a comunhão das horas e a cumplicidade dos momentos, para alguns o Natal era rever e saber dos outros, esses outros com quem não partilhavam todos os dias mas com quem iam coleccionando segundos ao telefone e mensagens para que nesse repetir as palavras fossem deixando rastos de si mesmos. E esses rastos facilitariam a vida e as horas más, nesses rastos se albergariam os nadas que sabiam de todos e com eles estariam mais perto, mais dentro e mais presentes.
Para outros os amigos são isto mesmo, a família que não têm, que nunca tiveram e que só descobriram mais tarde, à medida que o tempo foi passando e que se iam deixando nos outros e os outros em si. Pena era que estavam todos demasiado ocupados a tentar encontrar família nos restos dela mesma. Demasiado ocupados a tentar encontrar um presente adequado que é sempre desadequado porque nesta busca apressada em que qualquer coisa serve só porque tem que ser, o tudo fica pelo caminho. O tudo é o que vale a pena. É a cumplicidade partilhada que se revela quando se oferece o que o outro verdadeiramente gosta, e a esta só ascende quem “perde” tempo a conhecer, quem está atento às palavras, quem ouve devagar e precisa desse tempo escondido que poucos encontram e fazem seu.
A euforia do presente consome o tempo e a alegria da procura, banaliza o gesto e diminui valor ao Natal.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
A MÚSICA
Naquelas viagens em trabalho ouviu vezes sem conta esta música, ouviu-a e cantou-lha porque sempre ouvira dizer que as crianças mesmo quando ainda não nasceram ouvem. E queria que ela sentisse como sentia essa felicidade imensa que fora saber que ela existia. Queria dar-lha de presente, queria fazê-la perceber que na vida alguém a queria muito e tinha tantas coisas para lhe ensinar, e tanto desejo de a ajudar a ser gente, de lhe mostar o mundo, a música, os livros e a poesia.
E esta música cantou-lha no tempo que esperou para ela chegar e depois, nas noites inteiras em que quase não dormia a pensar no que poderia acontecer. Cantou-lha muitas vezes como se ela fosse um rio tranquilo que a afagava, que as afagava às duas nos dias em que havia chuva e o frio não era apenas do tempo. Era de dentro e escuro. Cantou-lha quase sem voz perdida entre lamentos e lágrimas e por dentro do riso e dos dias bons.
Hoje continua a cantar-lha mas em silêncio, quando ela não está porque de novo voltam as imagens dos abraços em braços pequenos que a apaziguavam com o mundo e com as pessoas. Hoje continua a cantar-lha em voz alta para ela se lembrar que ela está ali.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
A noite que era para ser a ver um filme
Naquela noite íamos ver um filme que nunca chegou a acontecer, havia tantas coisas para dizer que consumimos o tempo com a nossa conversa que de tão verdadeira invadiu a quele espaço e a nós. Gosto muito de cinema mas aquela conversa valeu por cem filmes E acho que havia lá mais alguém, alguém muito presente.Para uma casa com alma numa noite iluminada aqui fica música que a acompanha!
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
A Trip to England
sábado, 14 de novembro de 2009
A repetição dos dias
Digo para mim que amanhã é só mais um dia qualquer, um dia igual aos outros, em que as horas passam e nada mais. As mesmas coisas se repetem ou quase nada, só o movimento mecânico do acordar vestir e sentar. É só mais um dia, que temos que passar e esperar pelo outro e mais outro.
Olhamos para trás e pensamos que já fizemos tanto, tanta coisa, tanta coisa que não chega porque falta sempre. Não há paz que apazigue estas guerras, nenhuma paz. Só a mesmidade dos dias a lentidão do tempo e o relógio que nos desperta para sabermos que tem que ser que já é amanhã. Os mesmos gestos e as mesmas caras e o vazio colado
"I'm bleeding, bleeding hard...I'm nothing but the lonely soldier.I don't wonder who is right or is wrong. Sing this song for you to sing when I'm gone. I'm gone, now I'm gone I'm gone.
You are my cottonflower.
You are my cottonflower.. "
domingo, 8 de novembro de 2009
Adeus

Mas não era, eu não era e ninguém viu.
Chove tanto agora. Chove na terra toda e dentro de mim. Não me fui embora mas parece que sim. Todos acharam que sim, que nada mais havia a fazer. É preciso coragem para as palavras. As palavras não ditas criam toda a dúvida, e a dúvida afasta. Deviam ter vindo, as palavras, deviam ter apagado o silêncio e ter inundado a incerteza com a luz do que existe, do que é concreto e seguro.
Por vezes achamos que estamos nas pessoas, que elas são nossas e nós delas, mas não.
Começar tem este desígnio de ser preciso caminhar sozinho para se ter companhia. De nos desentranharmos de nós, de descontaminarmos a forma como nos damos aos outros, do que pensamos dos outros. Dos outros até.
Para sermos gente outra vez. E neste Adeus fictício achamos tantas vezes que o mundo acabou, quando, na realidade, ele começa. E aquela dor que sentimos quando olhamos para trás, para o que fomos, para o que fizemos, para todos os que lá deixámos, aquela mágoa estúpida que nos faz não querer estar lá e simultaneamente ter pena de não estar, este absurdo de dor é que nos faz duvidar da nossa mesma humanidade
domingo, 1 de novembro de 2009
RAIN SUSHI SAKAMOTO AND SUNDAY NIGHT
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
"Some girls are bigger than others"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pensei que fosse para subir, mas de cada vez que tentei ele afastou-se. Apeteceu-me virar-lhe costas e continuar a tentar abrir a porta do nevoeiro. Mas havia algo nele que não me deixava, queria definitivamente dizer-me qualquer coisa.
E eu, olhando para ele de longe, e ele atrás de mim a empurrar-me.
Queria urgentemente acordar.
Doía-me o corpo como se me espetassem facas, queria deixar-me cair em qualquer lado e aí ficar, queria voltar para dentro da neblina, sabia que esse não era o caminho, mas queria lá voltar. Sabia que por ali iria ter àquele lugar sombrio, acidentado, mas doentiamente sedutor.
Este barco tinha qualquer paz, que eu no meio de tanta guerra, desconhecia. E continuava ali, como alguém a olhar para e por mim. Subitamente, ao pé dele a vida mudava de cor, tudo parecia tão fácil, tão calmo e sereno. Devia ser bom, mas por que razão me assustava?
E eu insistia em subir e ele persistia em não me deixar.
Até que percebi. Percebi que não havia nada de mal ali, era apenas um mundo que eu desconhecia junto a algo que nunca experimentara.
Ele queria apenas navegar ao meu lado, queria que eu andasse com ele ao meu lado, mas que fosse eu a caminhar. Deixei-me ir, junto a ele, caí muitas vezes e ele, ao de leve e subtilmente, levantou-me.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
ESPARVOAR 1
terça-feira, 8 de setembro de 2009
O NINGUÉM

Queria ter um mapa, alguém conhece algum?
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
AOS AMIGOS
sábado, 25 de julho de 2009
HOMENAGEM
domingo, 19 de julho de 2009
OS NÓS
JLP revisitado
Não queria, adiei-o até não poder mais. É sempre assim com os livros de JLP, adio o final como se esse adiar da separação, já de si inevitável, me deixasse menos órfã. Só faltavam três folhas e eu até já sabia o final (sim sou daquelas maluquinhas que lê o fim antes do início, é inevitável, faço sempre isto…) mas queria aquele livro mais tempo, queria que aquele livro fizesse parte de mim mais dias. Até que acabei. Mas ainda não o arrumei dentro de mim, ainda ando com ele às voltas a pensar na maneira como ele chegou até mim e me esmagou literalmente.
Pode dizer-se que “Uma casa na Escuridão” é a história de uma casa, ou dos dias que passam nessa casa, e das pessoas que moram nessa casa, mas isso seria reduzir a nada uma história cheia de tudo, porque “Uma casa na Escuridão” é muito mais, é a vida de um escritor que ama uma mulher que vive apenas dentro de si. Uma mulher que morrera, mas que vivia dentro de si. E que ele amou como nenhuma, e é esse amor que no fim vem buscar a vida para um outro sítio. É a história de uma família numa casa num lugar qualquer. A ausência do espaço definido, o tempo dos sentidos, as personagens imaginárias e o conceito imperfeito dessa família que existe sem existir. A crueldade do mundo escrita e dita sem hora e sem a marca do concreto. A Dor toda que nos invade e consome, em vidas como a nossa sem o serem. E que no final tudo compõe como um conjunto perfeito ou imperfeito.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
A cabeça das crianças
A VIDA EM MUDANÇA
sábado, 20 de junho de 2009
JOSÉ LUIS PEIXOTO

Comecei ao contrário, como começo muitas vezes, muitas coisas, na vida(gosto de ir ler o fim dos livros, mesmo que não perceba nada porque ainda não li o princípio, gosto de ler as dedicatórias das músicas antes de as ouvir, enfim criatura por demais imperfeita no seu reino). Assim, a minha estreia deu-se com o “Cemitério de Pianos”. Não por razão nenhuma profunda. Ouvira aqui e ali coisas sobre JLP. Lera umas entrevistas, etc…E, confesso aqui, gostei imenso do título, esta é a mais pura e verdadeira verdade. Achei que alguém que escolhe este título para um livro merece ser lido. Bem sei que as duas nem sempre andam aliadas, mas neste caso aconteceu.
Por isso foi um começar de alma aberta, sem recomendações, ou ideias feitas vindas de criticas literárias (que raramente leio porque a linguagem é tão hermética, tudo é tão profundo e perfeito que fico sempre sem saber se o livro vale ou não a pena…e o que escrevo não pretende ser qualquer crítica).
Comecei assim e depois já não parei mais, “Nenhum Olhar”, “Cal” e agora, “Uma Casa na Escuridão”. Ainda não li toda a sua obra, mas vou ler.
JLP chegou até mim numa altura em que quase não lia nada de novo, além de trabalho e jornais. Estava desencantada com os livros e com quem escreve. E já li muito, muitas coisas, umas melhores, outras piores. Mas agora só leio o que verdadeiramente me atrai, aquilo que acho que me encanta, e já não me importo de iniciar um livro e não o acabar. Se ele não me apaixona, abandono-o, sem dó nem piedade. A vida é muito curta e o tempo precioso para se perder com textos que me enfadam. E, assim, acordei para uma revelação, tal e qual. Descobrir JLP foi como abrir uma cortina e deixar entrar a luz. A sua escrita é de uma emoção incontida de uma verdade autêntica que fico parada depois de ler uma página e outra, pasmada a reler e a pensar que as suas palavras, as suas ideias, por vezes surreais, mostram de uma forma completa o que é a vida e o que podemos sentir em dado momento sem que jamais o consigamos verbalizar desta forma.
Gostei muito de “Cemitério de Pianos”, mas deslumbrei-me mesmo com “Nenhum Olhar”. Como é possível alguém escrever com tamanha verdade? Como é possível uma imaginação tão grande, inovadora. Acabo de ler um livro dele e apetece-me voltar ao início, e isto só me sucedeu com muito poucos autores. Acontece-me ainda com o meu autor Maior, aquele que faz parte de mim e que muitos odeiam mas por quem eu tenho uma admiração quase imortal, Vergílio Ferreira. Era este o meu padrão máximo quando comecei a ler JLP. E ele criou a mesma alegria, o mesmo desejo parvo de escrever acerca das coisas palavras por si escritas, de as repetir e revelar, não como se fossem minhas como é óbvio, mas uma vontade enorme de o citar a propósito de nada.
Não gosto muito de analisar até à exaustão as obras que leio, aborrece-me estar a adivinhar o que alguém sentiu quando escreveu, só escrevo sobre o que a escrita provoca em mim, correndo o risco de o seu autor pensar que não imaginou que tal fosse possível. Ele é quase o meu autor Maior, ainda não é porque no que à sua escrita diz respeito ainda estou a caminho mas não vou parar e voltarei a ele aqui mais à frente.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
O REGRESSO
domingo, 24 de maio de 2009
A Noite a partir de Al Berto

Quero escrever mas não tenho palavras….acho-as pobres, toscas, infinitamente pequenas para descrever tanta beleza tanta magia e encanto.
Ouvi, vi, amei. Fiquei parada, pasmada a pensar, apetecia-me prender aquelas palavras para sempre a mim e não conseguia porque a seguir vinham outras e outras e outras e em catadupa enchiam-me a alma. Quis guardá-las em mim para as relembrar agora mas elas foram de uma violência poética tão sublime que não consigo reproduzir.
Já conhecia a obra de Al Berto, li e reli poemas seus, fazem parte de mim. Mas entregarem-mos assim desta forma foi como a primeira vez. Estava lá tudo, porém era uma prenda antiga com um embrulho novo.
Duas pessoas em palco a declamar a vida e os momentos por que muitas vezes passamos, mas que a existência pobre sem destino nem poder escondeu, ocultou, fechou. Incapazes apenas de verbalizar com semelhante dor, agonia e desespero, a enormidade do pensamento. Impotentes até para alcançar assim esse pensamento.
Duas pessoas apenas, que cheias, tão cheias de tudo nos devolveram as palavras vestidas de verdade, não aquela que vemos, a que existe para lá disso em que pensamos, a que escondemos com medo do ridículo. A que evitamos com pavor do que é novo e velho. As palavras abertas na nossa memória a ecoarem o tempo, a paixão violenta que nos abana como um vendaval imenso sem eira nem beira.
Duas pessoas declamaram poesia pura como quem conta uma história, como quem diz um segredo, sem que com isso banalizassem ou destruíssem o seu sentido. Deram-lhes ainda mais vida, corpórea e visível.
Fiquei rendida e mais uma vez disse para mim mesma, que o tempo em que estou sentada nestas cadeiras compensa todas as horas medíocres onde tenho que andar…
OS MORTOS VIVOS E AS CRIANÇAS
segunda-feira, 18 de maio de 2009
A VIDA - Trying to escape II

terça-feira, 12 de maio de 2009
VIPS E AFINS
domingo, 3 de maio de 2009
Foto
sexta-feira, 1 de maio de 2009
A MATURIDADE
Acordamos e descobrimos que estávamos mortos.
Que nunca nos levantámos
Que os gestos eram automáticos
Que a vida era de plástico
Que o tínhamos como certo, seguro e confortável,
Devolveu-nos o incerto, deixou-nos vazios.
De repente queremos a mudança,
E ela, teimosa e torpe não vem.
Vemos o caminho novo
E achamos que o devemos seguir,
E saltamos.
Mas o salto nunca mais pára.
Tentamos acomodar-nos nesse salto imparável,
Mas é impossível.
Apetecia-nos parar mas ainda assim continuamos.
Doentiamente sedutor, este caminho torpe que nos leva à maturidade.
Tentamos travar mas já não vamos a tempo.
Porque dentro de nós verdadeiramente já não queremos, nem podemos.
Assim vamos.
Rotos, despidos de memórias,
Começamos outra vez.
E outra e outra.
Sabemos apenas que, em certos dias, nestes saltos loucos e quase profanos,
Não estamos sós. Há umas mãos que nos afagam, pequenas, quase invisíveis.
E muito por isso continuamos.
Essas mãos, e os dias em que a queda abranda porque fez sol,
São o mapa da maturidade
JP SIMÕES
quinta-feira, 30 de abril de 2009
A IMPERFEISSSAO
sábado, 25 de abril de 2009
AMESTERDÃO

"Dans le port d'Amsterdam Y a des marins qui boivent
Et qui boivent et reboivent
Et qui reboivent encore
Ils boivent à la santé des putains d'Amsterdam
De Hambourg ou d'ailleurs
Enfin ils boivent aux dames qui leur donnent leur joli corps qui leur donnent leur vertu Pour une piéce en or (...)Et ils pissent comme je pleure sur les femmes infidéles Dans le port d'Amsterdam Dans le port d'Amsterdam."
Amesterdão lembra-me ainda "A Obra ao Negro" de Marguerite Yourcenar, que li quando tinha 17 anos e reli mais tarde. É diferente ler um livro aos 17 e outro aos 30. Naquela altura esse livro foi para mim uma revelação, intensa, verdadeira, difícil e irresistível. Senti ao lê-lo o que muito dificilmente voltei a sentir lendo o que li ultimamente. Não sei se por ser essa época da nossa vida em que sentimos tudo a dobrar, em que a vida é desesperadamente emergente e temos o coração e o espírito em constante busca de desafios. Mas naquela altura, aquele livro fez-me entender o que foi o século XVI, o desejo complexo de um homem em não ser apenas isso, o tumulto de uma época em que a verdade deixou de ser um paradigma e um dogma e assumiu um carácter mais volúvel à medida da humanidade de quem a questiona. Gosto de épocas em que se rasgam as folhas antigas dos livros decrépitos, em que se abandonam as mãos firmes do absoluto axioma e se caminha livremente. Admiro incondicionalmente quem tem a coragem para o fazer, quem ousou desafiar a estabilidade e o conforto dos fios seguros que nos ligam à vida. Gosto de pensar que isso é possível e que alguém foi bem sucedido ao concretizá-lo.
Senti-me um Zenão(personagem principal), senti que cresci ao ler as páginas deste livro, que ele fez de mim uma pessoa melhor e maior, ensinou-me mais sobre a vida e aquela época do que anos de aulas de história. E quando o reli voltei a imaginar como seria Amesterdão e sonhei que um dia qualquer poderia lá ir concretizando esta vontade irreal que nasceu com A Obra ao Negro. Se puderem leiam, é magnífico, difícil, não é de adoração imediata, dá luta, mas vale tudo isso.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
LIBERDADE

Tento com um esforço quase estóico ser compreensiva e racional quando penso nos argumentos dos que se dizem frontalmente contra. Tento mas não consigo. Sempre que os leio, ouço ou discuto não há um que me convença. Ou melhor eu não quero ser convencida do contrário, porém poderia talvez entendê-los melhor, dar-lhes crédito, encolher os ombros e pensar”OK, eu não penso assim, mas o argumento é válido, e aceitável”. Não.
Confesso que os extremismos sempre me incomodaram. A histeria de quem brame os seus argumentos de uma forma demagógica, como se fosse a única e a mais valiosa é meio caminho andado para que eu já nem oiça, já não veja, já não sinta. Isto é, como diria uma Amiga minha “não estou nem aí!”. Tais pessoas dão-me náuseas, vómitos, deixo de as ouvir, não quero saber. Até posso concordar com o que dizem mas a forma como o dizem faz-me perder a vontade de as ouvir. Chamem-me intolerante e fóbica, não faz mal concordo em grau, género, número.
Voltando ao essencial, é com dificuldade que encaro esta nova polémica como tal, isto é compreendo que se fale dela, já que no nosso País a sua viabilidade é para já nula.
Mas não vejo qualquer eficácia prática na forma como tem sido discutida e também se estivesse na adolescência e a tentar ter opinião sobre tudo e qualquer coisa(eu era assim, se calhar hoje já não…Não sei por enquanto ainda aguardo, as minhas crianças ainda não “adolescem”…) ficaria sem perceber muito bem qual a razoabilidade de uns e doutros argumentos. É bom que estas coisas se discutam, é bom porque a sociedade não é sempre igual, nem as pessoas se relacionam sempre da mesma maneira. A ser assim ainda estaríamos na Idade Média e Galileu não nos teria mostrado que ser teimoso e persistente, ainda quando o Mundo inteiro está contra nós e se acaba em chamas numa fogueira, vale a pena. Por isso seria agradável encontrar um consenso nesta matéria onde todos nos sentíssemos confortáveis. Impossível, já sei. Haverá sempre os que desditam de todas as mudanças em oposição aos que com elas se regozijam. De qualquer forma seria bom que com este assunto todos aprendêssemos qualquer coisa que é o que sempre se pretende quando ideias são debatidas, pelo menos num Mundo que se diz civilizado, seja lá o que isso for.
Digo desde já que não vou falar da Igreja porque me parece que não está em causa qualquer casamento católico, embora existam muitos homossexuais católicos, mas também, e ainda bem, também há muita gente que acredita em Deus e nem sempre concorda com a Igreja. Como diria um senhor Douto Professor, são realidades distintas.
Também não vou perder muito tempo a escrever sobre aqueles que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo apenas como mais um slogan pós-moderno que confere um certo estilo a quem gosta de aparecer. Para esses isto é apenas mais um assunto para mostrar que se é “modernito” e que é cool defender as minorias, ou então dos que sempre foram do contra, a favor dos pobres e descamisados, por isso isto é só mais uma questão para dizer que não, não pode ser. Não lhes dou muito crédito já que eles próprios não o dão a si mesmos, já quase consigo não os ouvir, o que é bom porque são muito ruidosos. Estou para estes como Almada Negreiros”A minha paz é ignorar”
Também tenho alguma dificuldade em visualizar A questão como se fosse algo amoral, como se eu mesma fosse um ser amoral. Talvez seja de mim, não sei, criatura por demais imperfeita, mas sem que me considere “imoral” ou “amoral”. Acho até, que a moral não tem nada a ver com isto. A verdade é que não consigo imaginar isto como uma questão moral, mas apenas como uma proibição legal. Eu acredito em Deus, muito. E ainda não duvido da minha fé porque sou daquelas palermas que não necessita de provas da sua existência para acreditar que ele existe. Pois eu sei que isso já não se usa e que se calhar devia era estar no convento a “estudar para freira”, mas é tal e qual há algum tempo, e não quero para já mudar. Dá-me um certo conforto este Deus. Ele não é castrador, discriminatório ou segregador, mas um Ser sublime porque tem sempre lugar nos seus braços para Todos mesmo os imperfeitos e os ditos “imorais”.
Não vejo porque duas pessoas do mesmo sexo não possam casar se assim o entenderem e desejarem. Se para elas essa união representar a comunhão de uma vida e a liberdade de amar e ser amado, um desejo de juntos caminharem e partilharem bons e maus momentos, de juntos concretizarem um projecto comum, respeitando o outro, as suas diferenças e amando-as como únicas, especiais e verdadeiras, sem que isso represente uma qualquer forma de opressão ou anulabilidade. Celebrar este desejo com quem nos quer bem é bom e, se calhar pode até ser uma recordação grata de um momento feliz. Estas também ajudam quando a vida é traiçoeira e nos desfaz. Pelo menos foi por estes motivos que um dia me casei. Na altura fazia todo o sentido. Hoje vejo o mundo de uma outra forma, acho que para se ter tudo isto o casamento não é uma condição, mas apenas um caminho paralelo, mais formal, quase “oficial” digamos, de se obter o mesmo. E confesso que de início, quando me predispus a pensar neste assunto, o meu lado mais prático levaram-me a pensar “mas por que raio é que estes querem agora casar, qual é o problema de se viver junto como um casal?”Porém entendo quem o queira fazer e quem o deseje. Sei que nestas decisões estão também implícitas muitas questões sucessórias, mas ainda assim, este argumento é demasiado pobre para o justificar. Há cada vez mais formas de protecção legal para quem vive em união de facto.
Por isso, para mim, o casamento entre homossexuais é, antes de mais, uma questão de liberdade, de se ser livre a fazer uma escolha. Se alguém optar por casar com um enorme burgesso(a) que o(a) espanca, humilha, trata mal, que de cada vez que esse alguém abre a boca o(a) manda calar e vocifera alarvemente, em tom de grande remate final, que essa pessoa é uma ignorante e só sabe falar de coisas insignificantes e sem valor. Porque a opinião desse alguém não tem qualquer valor e tudo o que ele(a) faz está mal feito e sobretudo, não pode, de forma alguma, dizer “eu não acho”, ou pensar de forma diferente porque é imediatamente fuzilado com um olhar e humilhações várias. E ainda assim decide toda a vida permanecer a seu lado, vivendo uma vida de plástico, hipócrita, (“vidinha de revista”), ninguém diz nada. Melhor, as pessoas ainda se acham no direito de empregar sempre aquela máxima, extraordinariamente machista e aberrante, “entre marido e mulher não se mete a colher”, ou então tiradas do tipo “coitado mas ele(a) até é muito trabalhador(a) e trata bem os filhos e paga as contas e não anda com outras(outros), o que é que ela(e) quer mais? E só atura porque quer!” Não é só porque quer mas porque a pessoa é livre de optar por viver assim, ainda que deixe de existir como essa pessoa, ainda que seja injusto e cruel para si mesmo e podendo lesar outros que pelo meio vão comungando deste modelo desacertado de vida em comum.. Porque se calhar quereriam apenas algo tão simples como respeito, consideração, reconhecimento, liberdade de pensar como lhe der na real gana e ser feliz como pessoa. Era só isso. Mas aqui não há nada de imoral pois não? È tudo normal.
Seria importante que as pessoas fossem mais flexíveis nos seus juízos morais acerca do que é diferente, que pensassem que a Pessoa Humana pode evoluir não apenas como ser mas como ser que se relaciona, e que, essas formas de relacionamento podem não ser estereotipadas nem estanques. Mas poderão acompanhar a progressão do homem na medida em que este quer e pode ser diferente. Mas não pode, é certo, porque se duas pessoas do mesmo sexo escolherem casar não têm aqui e agora liberdade de o fazer. E esta liberdade não interfere de forma alguma com quaisquer direitos dos outros, não lesa ninguém de facto. È uma escolha de quem quer viver a sua vida de uma outra forma. Não sei se melhor, se pior, sou heterossexual, mas entendo e aceito, como uma manifestação de liberdade quase suprema que haja quem o não seja e não queira ser. E essa liberdade não deve ser tolhida, esse direito que a pessoa tem de fazer escolhas, ainda que não sejam as padronizadas, e que impliquem mudanças por vezes dolorosas num Mundo intolerante e cruel para quem não segue os modelos aceites e impostos. Para mim é essa liberdade que está aqui em causa. Por isso tenho dificuldade em aceitar que o assim não entende. Na verdade para mim é apenas uma forma de limitar uma escolha a quem quer ser feliz. E isso é, a meu ver intolerante. Chamem-me o que quiserem, é o que penso.
Dizem-me que as coisas não são assim tão simples, que as pessoas não estão preparadas para estas mudanças, mas e a violência entre os casais é normal? Não há nada de imoral também aqui? As agressões em todas as suas formas são legítimas? Afinal, existem dois padrões para julgar a liberdade de escolha. Não deveria ser assim.
Deixo as belas e sábias palavras de Ricardo Reis que, muito melhor do que eu, disse tudo acerca disto “Para ser grande sê inteiro, nada teu exagera ou exclui, sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a Lua toda brilha porque alta vive”
OS AMIGOS
segunda-feira, 20 de abril de 2009
ESTAR CONTENTE
domingo, 19 de abril de 2009
KAFKA - ATRAVESSANDO AS PALAVRAS HÁ RESTOS DE LUZ- TEATRO
sexta-feira, 17 de abril de 2009
YOU TUBE
terça-feira, 14 de abril de 2009
MORIARTY
domingo, 12 de abril de 2009
"Just do it"
Apetecia-me passar uma manhã a ler jornais na esplanada da livraria da esquina, e sentir o cheiro a café forte a inundar-me as narinas.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Perfeito Vazio Música de Xutos e Pontapés
domingo, 5 de abril de 2009
sábado, 4 de abril de 2009
entrou dentro de mim.